Acordei e fui à janela, como o faço habitualmente.
Gosto de ver a noite de costas, adivinhar o dia que a meteorologia me reservou durante o sono.
Estava um dia frio, de sol que se pressentia acima do nevoeiro carregado a escurecer o céu e o horizonte. E assim permaneceu até este momento, em que regressei à mesma janela, ao fim do dia.
Senti uma imprevisível nostalgia pelos dias de Bruxelas.
Quem diria?!
Ao menos, por lá, não há enganos: é terra de dia sem sol desde que nos levantamos, por muito tarde da manhã que aconteça, até ao deitar, confundindo-se a sua natureza com a da noite de 24 horas. Chove, neva, há nevoeiros cerrados, mas nem é necessário ir à janela confirmar que assim será. Não há traições depressivas.
E passei horas a fio de hoje a passear de Cortenbergh à Grand-Place, passando pelo Terreiro do Paço a olhar pelos edifícios da burocracia comunitária, o Berlaymont, o Charlemagne, o Justus Lipsius, Rua de La Loi fora, saboreei um chocolate quente, acabado de escorrer chávena dentro, goela abaixo, já de volta pelo Grand Sablon, e saí do torpor hipnótico já cansado, descendo o Chiado, hora de almoço chegada com olhos fundidos com o jantar.
Hoje voltaria a Bruxelas, que não teria mais frio e nem estaria mais deprimido do que em Lisboa.
Quem diria?
O corte
13 hours ago