Tuesday, 14 June 2011

Vendo os comboios chegar e partir de Lisboa


Lisboa
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Estação de Santa Apolónia.
Junto ao Cais do Jardim do Tabaco, no Tejo.
Lisboa.

Sunday, 12 June 2011

Santos populares


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Junho é o mês grande, em Portugal. Mesmo se comparado ao mês das férias por excelência (Agosto), que tem mais um dia de calendário.

Os santos saltam prá rua e há arraiais em cada porta.

Em Lisboa, de vez em quando, o calendário é excepcionalmente generoso. O dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas dá as mãos ao dia da cidade e de Santo António, deixando o fim de semana a ligá-los.

Alfama, Castelo, Mouraria, Bairro Alto, ...

É nos bairros históricos que a festa ocupa todos os espaços, onde as pessoas se acotovelam, com o cheiro da sardinha assada a voar com o fumo das grelhas até todos os sensores olfativos que se encontrem nas redondezas, não deixando nenhum apetite de fora; são as mesas cheias e a algazarra no ar; são os sons das marchas populares a pedir uns pés de dança nos diminutos espaços dos recintos improvisados que ainda se encontram livres, é o vinho e a cerveja a correr. São os vasos de manjerico enfeitados com cravos de papel a acompanhar as quadras alegóricas ao Santo António, padroeiro da cidade, aos casamentos e ao amor.

E às centenas de quadras já existentes, nasce mais uma:

Pró S. António dar gozo,
Traz-me um arco, um balão
E um beijo bem caloroso,
Qu'eu dou-te o meu coração.
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Friday, 10 June 2011

O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

Estátua ao Adamastor, em Lisboa - - - - -

Hoje houve um misto entre festa no ar e olhares espelhando excesso de peso nas almas da maioria dos portugueses.

O Mostrengo reapareceu e ameaça.

Houve discursos carregados de críticas ao passado, telescópios apontados ao futuro, pedidos de Passos bem dados no presente.

Excelente o discurso de António Barreto. Tirem-se as consequências. Todas.

Hoje também é dia de festa da Nação que teima durar e durar e durar, pesem os seus estreitos limites geográficos. Conseguiu sair deste pequeno jardim mal tratado e deixar uma Pátria espalhada pelos cinco ventos, que se ouve e faz entender, por onde quer que se ande.

E é tempo de lembrar aquele que bem alto soube cantar os feitos heróicos deste nobre povo lusitano, porque o dia também é dele.

Porém já cinco sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.

Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo.
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!

E disse: "Ó gente ousada, mais que quantas
No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos quebrantas
E navegar nos longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados d’estranho ou próprio lenho:

Pois vens ver os segredos escondidos
Da natureza e do úmido elemento,
A nenhum grande humano concedidos
De nobre ou de imortal merecimento,
Ouve os danos de mi que apercebidos
Estão a teu sobejo atrevimento,
Por todo largo mar e pola terra
Que inda hás de sojugar com dura guerra.

Mais ia por diante o monstro horrendo
Dizendo nossos fados, quando, alçado,
Lhe disse eu: - Que és tu? Que esse estupendo
Corpo certo me tem maravilhado!
A boca e os olhos negros retorcendo
E dando um espantoso e grande brado,
Me respondeu, com voz pesada e amara,
Como quem da pergunta lhe pesara:

Eu sou aquele oculto e grande Cabo
A quem chamais vós outros Tormentório,
Que nunca a Ptolomeu, Pompônio, Estrabo,
Plínio e quantos passaram fui notório.
Aqui toda a africana costa acabo
Neste meu nunca visto promontório,
Que pera o Pólo Antártico se estende,
A quem vossa ousadia tanto ofende.

Fui dos filhos aspérrimos da Terra,
Qual Encélado, Egeu e Centimano;
Chamei-me Adamastor e fui na guerra
Contra o que vibra os raios de Vulcano;
Não que pusesse serra sobre serra,
Mas conquistando as ondas do Oceano,
Fui capitão do mar, por onde andava
A armada de Neptuno, que eu buscava.

Eram já neste tempo meus Irmãos
Vencidos e em miséria extrema postos,
E, por mais segurar-se Deuses vãos,
Alguns a vários montes sotopostos.
E, como contra o Céu não valem mãos,
Eu, que chorando andava meus desgostos,
Comecei a sentir do fado imigo,
Por meus atrevimentos, o castigo:

Converte-se-me a carne em terra dura;
Em penedos os ossos se fizeram;
Estes membros que vês e esta figura
Por estas longas águas se estenderam;
Enfim, minha grandíssima estatura
Neste remoto Cabo converteram
Os Deuses; e, por mais dobradas mágoas,
Me anda Tétis cercando destas águas.

Assi contava; e, cum medonho choro,
Súbito d’ante os olhos se apartou.
Desfez-se a nuvem negra e cum sonoro
Bramido muito longe o mar soou.
Eu, levantando as mãos ao santo coro
Dos Anjos, que tão longe nos guiou,
A Deus pedi que removesse os duros
Casos que Adamastor contou futuros.

CAMÕES, “Os Lusíadas”, canto V

(extrato das estrofes 37 a 60 – resumo do episódio do Gigante Adamastor)


E houve, ainda, arremedos de manifestações políticas.







Wednesday, 8 June 2011

Outro testamento


Quando eu morrer deitem-me nu à cova
Como uma libra ou uma raiz,
Dêem a minha roupa a uma mulher nova
Para o amante que a não quis.

Façam coisas bonitas por minha alma:
Espalhem moedas, rosas, figos.
Dando-me terra dura e calma,
Cortem as unhas aos meus amigos.

Quando eu morrer mandem embora os lírios:
Vou nu, não quero que me vejam
Assim puro e conciso entre círios vergados.
As rosas sim; estão acostumadas
A bem cair no que desejam:
Sejam as rosas toleradas.
Mas não me levem os cravos ásperos e quentes
Que minha Mulher me trouxe:
Ficam para o seu cabelo de viúva,
Ali, em vez da minha mão;
Ali, naquela cara doce...
Ficam para irritar a turba
E eu existir, para analfabetos, nessa correcta irritação.

Quando eu morrer e for chegando ao cemitério,
Acima da rampa,
Mandem um coveiro sério
Verificar, campa por campa
(Mas é batendo devagarinho
Só três pancadas em cada tampa,
E um só coveiro seguro chega),
Se os mortos têm licor de ausência
(Como nas pipas de uma adega
Se bate o tampo, a ver o vinho):
Se os mortos têm licor de ausência
Para bebermos de cova a cova,
Naturalmente, como quem prova
Da lavra da própria paciência.

Quando eu morrer. . .
Eu morro lá!
Faço-me morto aqui, nu nas minhas palavras,
Pois quando me comovo até o osso é sonoro.

Minha casa de sons com o morador na lua,
Esqueleto que deixo em linhas trabalhado:
Minha morte civil será uma cena de rua;
Palavras, terras onde moro,
Nunca vos deixarei.

Mas quando eu morrer, só por geometria,
Largando a vertical, ferida do ar,
Façam, à portuguesa, uma alegria para todos;
Distraiam as mulheres, que poderiam chorar;
Dêem vinho, beijos, flores, figos a rodos,
E levem-me - só horizonte - para o mar.

VITORINO NEMÉSIO
1901 - 1978

Tuesday, 7 June 2011

E eis que é segunda-feira, ou o "the day after".


Isto é, a segunda-feira foi ontem mas, "the day after", vai continuar.

E parece que não começa da melhor forma, apesar das boas intenções.

Então não é que eu ouvi tanta guerra a ser feita ao peso do Estado, à gordura da administração pública e à pulverização das funções do Estado por entidades difíceis de encontrar e saber o que fazem e, ainda sem terem as cadeiras à mão do rabinho, já anunciam a criação de uma alta "autoridade orçamental independente" (Conselho de Finanças Públicas)?

Com assentos distribuídos ao Tribunal de Contas, ao Banco de Portugal e entidades independentes, incluindo estrangeiras??!!

Eh láááá!!!

Alguém que vá em "Passos" de corrida acelerada acender o farol, a ver se não perdem o rumo antes de estarem ao leme da nau.
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Farol de Cacilhas, Almada

Friday, 3 June 2011

Período de reflexão. Volto segunda-feira


Hoje é dia de pegar na prancha e preparar uma boa surfadela até domingo. Mergulhar no que queremos para o país, também o que não queremos, enfrentar os medos, das ondas e dos ventos, assentar bem os pés e deixarmo-nos embalar até ao gozo final. Venha definitivamente uma maioria absoluta, qualquer que seja (o povo é que a ordenará) para se acabarem as desculpas. Não voltará a haver mais portas para a esperança da vida.
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Thursday, 2 June 2011

E o Verão, vem ou não? Perscrutando-o da Costa da Caparica


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Olhando da Praia da Mata, na Costa da Caparica, para o Cabo Espichel.

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Olhando da Praia da Mata para a Serra de Sintra. As praias da Costa da Caparica, em primeiro plano, Estoril/Cascais, ao fundo.

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Olhando da Praia da Mata (Costa da Caparica) para a Serra de Sintra, com a silhueta do Palácio Nacional de Pena - Sintra.

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Surfing. Praia da Mata - Costa da Caparica. Ondas q.b., muito vento, sol e calor.

Wednesday, 1 June 2011

Função pública


Passos Coelho defendeu ontem a indexação dos salários da função pública à produtividade.”, lê-se no jornal Público (01.06.2011)

Lembro-me de, desde a segunda metade da década de 80, se ter iniciado - e sempre em crescendo - a introdução das ideias de “exploração” da actividade que é exercida pela Administração Pública (AP) como se de uma actividade privada se tratasse, como se fosse industrial ou, pior ainda, cada Direcção-Geral fosse uma empresa de comércio.

Começou, entre outras coisas (como a de que a AP tinha que seguir as regras de concorrência, por exemplo), com o seu símbolo máximo: o cidadão - ou outro utilizador dos serviços públicos - deveria ser tratado como “CLIENTE”.

Ora, cliente é sinónimo de (dizem os dicionários) “pessoa que requer serviços mediante pagamento, que compra algo; comprador; freguês”.

Ao ponto onde o avanço de tal ideia nos trouxe, parece-me, ninguém tem dúvidas. Mas há sempre alguns que querem mais e não hesitam em atirar tudo ao precipício, no afã de, dos cacos, apanharem uma jóia reluzente.

Sabemos, não vale a pena metermos a cabeça na areia, que a AP sofreu uma desmesurada inflação nos recursos humanos, no período a seguir à revolução de Abril, como forma de secar potenciais conflitos sociais, tal o nível a que chegou a destruição do tecido económico e, com ele, a possível horda de desempregados, não fosse a abertura de todas as portas, mesmo as que não existiam, a quem quer que se apresentasse à função pública.

Depois, temos assistido à desenfreada distribuição de lugares públicos, dos mais humildes aos mais elevados, como forma de comprar votos e garanti-los no futuro, quiçá até, dominar pontos chave do poder administrativo do Estado, ou “dividindo” o Estado em tantas partes quantas as que conseguem a imaginação e as necessidades partidárias, quer dentro da Adinistração Central, quer fora dela, criando e fazendo nascer, com mais facilidade que cogumelos, instituições e empresas públicas que prosseguem funções em cumulação com as funções públicas tradicionais para as quais existem Direcções-Gerais ou equivalentes, ou mesmo em contradição com elas, ou fingem que têm algo útil a prosseguir a par delas, e chegámos, sem dúvida, a um corpo da AP insustentável.

Nunca se viu, ou só se viu de forma tíbia, um partido político “meter o dedo na ferida” e tomar as medidas que, em minha opinião, são realmente necessárias.

Tem sido este o caminho escolhido pelos principais partidos políticos que, nos últimos tempos, ou não têm quadros capazes de analisarem as reais causas do estado a que o Estado-Administração chegou ou/e de tomarem as consequentes e necessárias medidas que ele necessita.

A manutenção do princípio de que o Estado-Administração tem de prosseguir a sua actividade pública como se privada fosse vai-nos atirar, definitivamente, lá para o fundo, onde nem cacos sobrarão.

Não há outra forma de ver o exercício da função pública (entenda-se, as funções públicas) que não seja como o exercício de uma missão, onde o objectivo primordial é servir, com desprendimento (abnegação, generosidade e independência), os que são a sua razão de existir, quer como fim, quer como meio de financiamento da mesma. De forma racional, q.b., mas não mais que isso. Sem querer dizer que quem se dedica a essa missão tenha que ser “franciscano”.

A este propósito, sem que esteja totalmente de acordo com o que a sua ironia pretende transmitir, vem bem a calhar lembrar este texto de José Saramago:

«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»

In Cadernos de Lanzarote - Diário III