Friday, 19 August 2011

Quando Lisboa tremeu


Não tarda, temos o Natal a entrar-nos porta dentro.
Todos os anos, por essa altura, entra também pela porta aberta da chaminé que cai na lareira de fogo rodopiante, olhos postos nos flocos de neve a cair de pára-quedas na parte de fora - quadro que ficciono desde que me lembro das primeiras imagens do mundo, quando o Natal era no verão - "uma resma" de papel impresso que fica mais valorizado porque vem encapado e sob a forma de livros, uns quantos com umas palavras simpáticas escritas por quem mos faz chegar. Sempre que os recebo, penso na montanha de horas que vou necessitar para os devorar, ainda por cima, acumulados aos que poucos dias antes entraram no meu dia de aniversário. Ah, e aos que vou tomando aqui e ali, nesta ou naquela livraria.
E o meu aniversário e o Natal deste ano não tardam, que os relógios que consulto, desde há uns tempos, me parecem ter os motores demasiado acelerados. Tenho pois que vagar a prateleira dos não lidos, para dar lugar aos que para aí se perfilam.
Tudo isto para vos dizer que, entre uns tantos mais, acabo de ler o romance "Quando Lisboa tremeu".
É um bom filme ficcionado do terramoto e do maremoto que assolou Lisboa, em 1755, e das suas consequências.
Corrosivo quando olha aos fanatismos religiosos, leva-nos a uma viagem aos tempos em que os cuidados de limpeza, higiene e saúde estavam muito longe dos que actualmente temos (mesmo que sujeitos a críticas), à baixeza de sentimentos humanos que em cada canto de desgraça espreita uma janela de oportunidade de apropriação do alheio, incluindo do maior bem que é a vida, muitas vezes a troco do nada, de como é sempre possível ver meia dúzia de pessoas que, sem perder o coração, conseguem utilizar a razão para praticar o bem, de como aquele sentimento mais humano e de produção de vida, o amor, se mantém. Tudo num caldeirão que fervilha no meio do medo, da destruição, da incerteza e insegurança, do egoísmo no momento da tentativa de fuga, na grandeza dos animais que não são humanos ... ah, and last but not the least, entre sentimentos puros ou traiçoeiros, ou que o momento leva a pensar ser a última oportunidade de provar o cálice do prazer e da felicidade, com um enredo de paixões e de amores que atinge o seu climax no final do livro, surpreendendo o leitor, mesmo quando já se pensa que nada mais o poderia surpreender naquela estória.
Tenham um bom fim de semana e uma boa leitura.
Capa Completa

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