Thursday 3 March 2011

Olhar sobre leituras de fevereiro


Tenho uma forte auto-disciplina nos acessos às livrarias, o que me dá alguma folga acrescida ao meu orçamento mensal. Mas quando por lá caio, raramente saio sem um saco com alguns exemplares de livros que auto-prometo não lhes vai acontecer o mesmo que aos últimos, penúltimos, antepenúltimos, etc, etc, etc. É verdade que a tendência dos amigos e familiares, nos natais e aniversários (sim, o plural está correcto), e outras ocasiões, já que todas são boas, também ajudam ao constante acumular de folhas para ler. Ah, e o tempo, o que me falta em velocidade progressivamente acelerada pelo relógio dos dias que se riscam no calendário que me foi oferecido pela natureza, lá vai ditando, também, o crescer da “prateleira com livros para ler”.

A última vez que entrei na livraria da FNAC do Chiado, à hora de almoço e de descompressão e preparação para mais uma tarde de trabalho, acompanhado de um colega e amigo – local a que vou sempre que a auto-disciplina está ausente - já eu tinha nas mãos a minha selecção de leituras futuras, com 3 livros, e ele apareceu-me com mais um, garantindo que seria uma boa e rápida leitura. Olhei para a capa e torci o nariz, não pelo nome do autor, que prometia, mas pelo título e a imagem que coloria a capa. Veio-me à ideia o livro de John Coetzee, “Desgraça”, mas ele garantiu-me que iria ser uma leitura melhor.

Acabei de o ler há poucos dias. Eis porque hoje o trago para cá. Mas também porque o achei com um enredo de sucção permanente para a página seguinte, com muitos monólogos dialogados na interrogativa, não se persebe bem se com o leitor, se com o próprio autor, com um discurso de palavras fortes (li a versão portuguesa, mas acredito que a tradução espelha bastante o original) e sentimentos arrasantes, onde perpassa um fio condutor de moral fraturante e, muito especialmente, se desmistificam alguns preconceitos, onde o climax se atinge com um misto de fim esperado e, ao mesmo tempo, de total surpresa, onde fica suspensa a ideia que o autor tem para nos transmitir em relação ao título que escolheu. Quem é, afinal, o animal moribundo do autor?

Claro que me referi, de uma forma muito resumida, à minha perspectiva da leitura seleccionada para comentar no blogue.

Vou partir para mais uma viagem literária, não tarda nada, agora que os grãos da âmbula superior da ampulheta me parecem descer cada vez mais depressa, exactamente quando se inicia um período de vida que devia contrariar essa visão, e os dias e as noites tenderão a ficar mais longas.

Para os que ainda não leram, espero que não os tenha defraudado com este meu comentário.

Até à minha próxima leitura.

“The dying animal”
“El animal moribundo”
2001

2 comments:

Anonymous said...

Todo ser humano es un animal moribundo. El ultimo club.
Cierto Philip Roth tiene su estilo.
C.

xistosa, josé torres said...

Ultimamente não tenho lido nada.
Não tenho pachorra de começar um livro... mas depois de começar é "de tiro".
Tenho alguns (muitos) que foram vítimas de alguém que se lembrou de mos oferecer.
São essa obrigações que me oferecem "à força" que me deixam mais relapso.
Também o tempo não tem abundado e desde o Natal que estou praticamente sem portátil(o de secretária está há mais de 3 anos moribundo, nos cuidados intensivos duma arrecadação esperando pelo inevitável funeral).
O pai Natal foi amigo (quiçá amigo da onça) e 'ofereceu-me' um Mac quedeve ter saído das entranhas da terra.
No dia da inauguração, ao sair da embalagem, enquanto lia a especificações, um sobrinho-neto, tentou experimentar a queda, duma altura de 0.70cm que eram anunciados.
Só que o pára-quedas não funcionou e agora tenho um dilema.
Ou conserto um objecto cujo conserto dá quase para dois portáteis, ou continuo neste velhinho, com sete anos e que andam cheio de reumático.
Nem sei se não me vou dedicar a outras coisas e deixo a obrigação obrigatória de manter a casa actualizada.
Philip Roth é um artista do solilóquio.
Não me recordo do nome, mas li pelo menos um livro. (não fiquei cliente, nem sei bem porquê).
Não agradeci o comentário deixado lá na minha casa porque o dito cujo portátil velhinho, demora uma eternidade a abrir uma página e a maior parte das vezes aparece-me uma janela indicando-me que um "scrip" da página não responde e como não sei a linguagem destas máquinas, tenho que aguardar um ou dois minutos.
Convenhamos que não é nada agradável mas sim desesperante.
Vai longo o 'solilóquio', como o do outro.
Um abração do mesmo de sempre.